
A Dificuldade de Ser Eu
Ser eu própria. Parece simples, não é?
Na prática, é um dos maiores desafios que enfrento todos os dias.
Vivemos numa sociedade que nos molda desde cedo: como devemos falar, vestir, pensar, reagir… E, quando decidimos quebrar esses moldes, surge o desconforto — não só nos outros, mas dentro de nós também. Começa uma luta interna entre o que sentimos ser verdadeiro e o que aprendemos a mostrar para sermos aceites.
Segundo a neurociência, o medo de rejeição ativa a amígdala cerebral, que reage como se estivéssemos em perigo real. O nosso sistema nervoso foi desenhado para garantir a nossa sobrevivência em grupo, e ser excluída ou julgada é, para o cérebro, uma ameaça. Mas com consciência e prática, o cérebro pode ser reeducado — é a chamada neuroplasticidade. Podemos ensinar-nos, aos poucos, que é seguro ser quem somos.
No meu caso, ser eu própria significa respeitar o meu ritmo, os meus valores, as minhas emoções. Mas também significa defender o meu ponto de vista, mesmo quando ele não agrada, mesmo quando sei que pode gerar desconforto. E aqui mora uma das maiores dificuldades: como sustentar a minha verdade sem me sentir culpada? Como me posicionar sem medo de ser julgada ou rejeitada?
A PNL ensina que os nossos comportamentos são reflexos de padrões inconscientes que podemos transformar. Comecei a perguntar-me: “Em que momento aprendi que o conflito era perigoso?” ou “A quem pertence este medo que carrego?” – e estas perguntas começaram a libertar espaço dentro de mim para escolher de forma diferente.
Muitas vezes calei a minha voz para evitar conflitos. Preferi o silêncio à exposição. Mas percebi que, sempre que me anulo para não incomodar, estou a incomodar-me a mim mesma. E isso pesa. Pesa na alma, no corpo, no coração.
Ser verdadeira comigo própria exige coragem. Exige presença. Exige desapego da necessidade de agradar.
O filósofo estoico Epicteto dizia: “Não são os factos que nos perturbam, mas sim a forma como os interpretamos.”
E é verdade — muitas vezes não é o julgamento do outro que me paralisa, mas o meu próprio julgamento interno.
Confesso: há dias em que falho. Dias em que me perco, me comparo, me julgo. Dias em que me silencio por medo de parecer “demasiado”. O ego grita, o medo sussurra, o sistema nervoso retrai-se. Mas nesses dias, respiro fundo. E lembro-me de que ser eu própria não é sobre ser perfeita. É sobre ser inteira. Sobre honrar cada parte de mim — inclusive aquela que pensa de forma diferente, que sente intensamente, que se posiciona com firmeza e respeito.
Escrevo isto não como alguém que já chegou, mas como alguém que está a caminho. Que reconhece a dificuldade, mas não desiste da jornada. Porque acredito que, quanto mais me permito SER, mais leve a vida se torna. E mais contribuo com a minha verdade para este mundo que tanto precisa de autenticidade e coragem.
E tu? O que tem impedido que sejas verdadeiramente tu? Em que momentos sentes que te calas para não seres julgada?
Quando escolhes ser tu própria, a tua voz é ouvida — não porque gritas, mas porque finalmente ecoa a verdade do teu ser.
E se usasses o desconforto como bússola, em vez de o evitar?
E se, em vez de temeres o julgamento, o visses como um convite à expansão?
Como diria Marco Aurélio: “Olha para dentro. Dentro de ti está a fonte do bem, e ela pode jorrar continuamente se apenas cavarmos.”
A tua autenticidade pode incomodar, mas também ilumina. E o mundo precisa mais da tua luz do que do teu disfarce.
Com Carinho
Paula Francisco

